Estreio o meu blog com este texto por resumir o que eu considero como um elemento base do cinema como forma e arte:
As Bolhas
Por: Henrique Real
Numa cena de “Odd Man Out” de 1947, dirigido por Carol Reed, um personagem destroçado, deixa cair a sua bebida na mesa. Devido ao seu estado melancólico, o mesmo tem uma alucinação (vê a imagem, numa das bolhas, um homem ralhando consigo). Mais tarde, numa cena de “Two Or Tree Things I Know About Her” de (1967), realizado por Jean-Luc Godard, uma outra personagem perturbada, desabafa consigo mesmo enquanto observa as bolhas da sua bebida. E por fim, em 1976, com “Taxi Driver” de Martin Scorsese, observamos uma vez mais um personagem absorvido em si mesmo e nos seus ressentimentos, abstraindo-se a ver as bolhas da sua bebida efervescente, simbolizando também a raiva e a tensão psicológica do momento. O que têm de comum estes três filmes? Nada. Que ideia têm em comum estes três filmes? A das bolhas. Na história do cinema existe um exemplo sistemático: o das bolhas.
Temos três cenas que mostram três personagens que refletem nos seus problemas observando bolhas. No primeiro filme, o personagem está perturbado, no segundo está abstraído e no terceiro está tenso, mas todos os seus problemas estão reflectidos nas bolhas. Porquê as bolhas?! Qual a razão das bolhas?!
No fundo, não há uma razão especial para a escolha das bolhas, pois estas não alimentam ou desfiguram o significado que a cena quer transmitir, simplesmente é uma fuga criada pelo realizador para mostrar e realçar os sentimentos presentes em cena, uma nova ideia de levar o espetador a refletir sobre a mensagem presente. Nos três filmes, as bolhas cumprem com o mesmo motivo de dar a ver o quanto é importante o pensamento daquelas personagens naquele momento. Numa versão mais convencional da coisa, a cena não teria tanto impacto. Por exemplo, se no filme de Carol Reed, o personagem não tivesse visto outro homem a reclamar consigo nas bolhas de uma bebida derramada, ou se em “Taxi Driver”, o personagem não tivesse tão concentrado a observar a efervescência da sua bebida enquanto está remoer pensamentos no seu subconsciente, provavelmente o espetador não daria a mesma importância ou atenção que no entanto assim passa a dar, e no fundo, não é nada de novo ver um personagem mergulhado nos seus problemas.
Quando o cinema é concebido como forma de arte, para servir a mesma, o que faz dele algo artístico e intelectual são as ideias. Ideias que permitem mostrar imagens ao espetador algo de diferente, algo que este ainda nunca tinha visto antes. Por vezes o conteúdo (a mensagem) que está por detrás dessas ideias é que poderá não ser novo (as injustiças sociais, a pobreza, o racismo, a descriminação homossexual, a violência doméstica, etc.), ou seja, poderão ser temas demasiado “espremidos”, tornando também a sua abordagem mais cansativa e saturada, mas se houver uma nova forma de os mostrar de maneira diferente, não convencional, aí a sua abordagem tornar-se-á mais interessante e de certa forma diferente, parecendo então algo de novo. O cinema como arte pura, procura explorar novas formas de mostrar os vários assuntos que são abordados, dando-lhes uma nova roupagem e tornando-os (ou mantendo-os) atuais.
No fundo, não há uma razão especial para a escolha das bolhas, pois estas não alimentam ou desfiguram o significado que a cena quer transmitir, simplesmente é uma fuga criada pelo realizador para mostrar e realçar os sentimentos presentes em cena, uma nova ideia de levar o espetador a refletir sobre a mensagem presente. Nos três filmes, as bolhas cumprem com o mesmo motivo de dar a ver o quanto é importante o pensamento daquelas personagens naquele momento. Numa versão mais convencional da coisa, a cena não teria tanto impacto. Por exemplo, se no filme de Carol Reed, o personagem não tivesse visto outro homem a reclamar consigo nas bolhas de uma bebida derramada, ou se em “Taxi Driver”, o personagem não tivesse tão concentrado a observar a efervescência da sua bebida enquanto está remoer pensamentos no seu subconsciente, provavelmente o espetador não daria a mesma importância ou atenção que no entanto assim passa a dar, e no fundo, não é nada de novo ver um personagem mergulhado nos seus problemas.
Quando o cinema é concebido como forma de arte, para servir a mesma, o que faz dele algo artístico e intelectual são as ideias. Ideias que permitem mostrar imagens ao espetador algo de diferente, algo que este ainda nunca tinha visto antes. Por vezes o conteúdo (a mensagem) que está por detrás dessas ideias é que poderá não ser novo (as injustiças sociais, a pobreza, o racismo, a descriminação homossexual, a violência doméstica, etc.), ou seja, poderão ser temas demasiado “espremidos”, tornando também a sua abordagem mais cansativa e saturada, mas se houver uma nova forma de os mostrar de maneira diferente, não convencional, aí a sua abordagem tornar-se-á mais interessante e de certa forma diferente, parecendo então algo de novo. O cinema como arte pura, procura explorar novas formas de mostrar os vários assuntos que são abordados, dando-lhes uma nova roupagem e tornando-os (ou mantendo-os) atuais.
São estas novas ideias que elevam o cinema a uma forma de arte superior e atual comparado com as restantes, fazendo o espetador refletir sobre os assuntos propostos e a olhar as coisas com outros olhos.
HR
- "Odd Man Out" http://www.imdb.com/title/tt0039677/?ref_=fn_al_tt_1
- “Two Or Tree Things I Know About Her” http://www.imdb.com/title/tt0060304/?ref_=nv_sr_1
- "Taxi Driver" http://www.imdb.com/title/tt0075314/?ref_=nv_sr_2
Gostei do texto e queria saber se gostaste dos filmes “Odd Man Out” e “Two Or Tree Things I Know About Her” ou só viste as cenas? A imagem é de qual dos filmes?
ResponderEliminarMR
Desses dois filmes só vi a cena em questão. E a imagem é do "Taxi Driver".
EliminarOlá Henrique! Gostei do texto e especialmente da temática das "bolhas", provando que o que move o cinema não é só o dinheiro e o marketing mas as ideias visuais. Estas três cenas são bons exemplos de como o cinema consegue captar e dar a ver ao espectador o que é da ordem do invisível - o interior e o psicológico das personagens.
ResponderEliminarBoa sorte com o blog e espero ler mais textos!
Nuno Cardoso
Obrigado Nuno!
EliminarE sim, é essa a mensagem, pois a arte deve estar à frente do entretenimento gratuito e não o contrario. O mais engraçado é ver que na maioria dos casos opta-se por explorar o entretenimento gratuito sem sequer pensar que o entretenimento em si pode estar aliado à arte e assim "juntar o útil ao agradável"!