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16/08/2014

Música II

Esta semana trago-vos uma reflexão sobre o preço do sucesso a longo prazo:

"ARTPOP"
Fazer a diferença à força ou criatividade incompreendida
Por Henrique Real


      Depois da grande extravagância que foi "Born This Way" e a sua promoção, os fãs de Lady Gaga estavam famintos pelo próximo trabalho da artista. Com quatro singles no top dez, tendo o primeiro chegado ao número um do Hot100, a artista norte-americana sente-se na obrigação de continuar a alimentar este "monstro" que é a fama e o impacto social que cria. Finalmente sai o single principal do seu novo disco: "Applause" que entra diretamente no top dez (que por coincidência concorre com o regresso de Katy Perry através de "Roar", que como sabemos, dificulta as coisas para Gaga, pois Perry já a tinha superado antes a larga escala com o disco "Teenage Dream"), permanecendo lá durante várias semanas (não consecutivas), mas não foi um tiro certeiro. A música até pode ser pro-ativa mas não era do mesmo esplendor que "Bad Romance" ou "Born This Way", que tinham videoclips excessivamente espalhafatosos com uma história para contar. O vídeo de "Applause", para além de não ser tão vistoso como os anteriores da cantora, também não tinha conteúdo, ou seja, o espetáculo que tinha valia só por si (o que se formos a ver até vai de encontro com a letra da canção). Entretanto sai o segundo single oficial, "Do What U Want", que mais uma vez fica prejudicado pelo seu videoclip, que nem chegou a sair! Para cobrir essa grave lacuna, Gaga gravou uma versão do single que substituía R. Kelly por Christina Aguilera, o que foi um grande erro! E como três é um número perfeito, chega-nos a terceira razão para o falhanço de Gaga: a escolha do terceiro single! "Dope" foi um single promocional bastante bem sucedido, daí a expetativa de vir a ter algum protagonismo, mas optou-se por lançar "G.U.Y." que embora sendo uma excelente música, o público já não teve o mesmo entusiasmo que deu aos singles anteriores, logo não teve a atenção merecida! Tudo isto agregado a um álbum um tanto ou quanto experimental (como iremos ver) contribuiu para que "Artpop" seja o seu primeiro falhanço comercial na carreira de uma artista que, em poucos anos, esperava-se que superasse Madonna (por exemplo!). No fundo, quanto mais era desejado um grande regresso, mais fracassado ele se tornou, não conseguindo saltar a fasquia. Comercialmente, "Artpop" não superou as expetativas, mas artisticamente será que foi um falhanço ou foi incompreendido?    
      "Aura" é a canção de abertura do álbum podendo-se considerar Dance-pop ou EDM experimental com alguns ritmos latinos obtidos pela viola que ouvimos logo da faixa. Foi escrita e produzida por ela, Zedd e pelos Infected Mushroom. A música fala de uma rapariga que utiliza a burca com uma conotação erótica, ou seja, esconde a sua beleza para cativar a curiosidade do parceiro em possui-la. Neste caso, Lady Gaga desconecta o sentido religioso da burca para lhe dar um contexto sexual e exótico, ilustrando assim o seguinte provérbio: o fruto proibido é sempre o mais  apetecido. A sua voz está trabalhada de quatro maneiras diferentes: a primeira é na introdução onde nos é apresentada num tom malicioso "não cantado"; a segunda, os seus vocais tornam-se mais agressivos apelando assim ao protesto e ao impacto lírico, repetindo o efeito nas partes seguintes a seguir ao refrão; no refrão notamos a pureza da sua voz, onde esta já se encontra melódica; e por fim, na espécie de solo antes da última aparição do refrão, a voz está sobrecarregada de filtros dando um efeito muito "robótico" e irreconhecível. Relativamente à parte instrumental notamos que se trata de uma "babunça" electrónica em conjunto com uma viola que despromove um ritmo único (destruindo os padrões estandardizados da pop). Basicamente, trata-se de uma música de certa forma experimental a partir do momento que "brinca" com os vários meios a que tem possibilidade de recorrer, a fim de criar (ou de tentar criar) algo de novo num mundo que se encontra sobrecarregado de muita variedade musical, e agregado a isso está uma letra bem concebida e original. Para os mais tradicionalistas, esta faixa vale de pouco, para os mais vanguardistas esta é a "semente" para um novo subgénero. Seguimos com "Venus", um single promocional do álbum, é escrita e produzida por Gaga em conjunto, na parte da escrita, por Paul "DJ White Shadow" Blair, Hugo Leclercq, Dino Zisis, Nick Monson e Sun Ra, e com parceria, na produção, de Madeon e Monson. Esta é uma faixa mais convencional dentro do género EDM, transmitindo a seguinte mensagem lírica: "Let’s blast off to a new dimension/In your bedroom", ou seja, a lírica, bastante normal no mundo da música pop, é basicamente o desejo exótico/erótico que uma rapariga tem pelo seu amante (invocando a deusa do amor e os elementos do universo). Liricamente podemos considerar de que esta canção é influenciada pelo êxito nº1 da Hot100 de Katy Perry, "E.T.", pois em ambas falam da paixão utilizando metáforas cósmicas. Aqui, a voz de Gaga está fortemente sintetizada e agressiva, de um modo geral, dando a ideia de superioridade, havendo um destaque especial para a terceira parte lírica onde essa "acidez" e violência é bastante evidente, e para o refrão em que a mesma utiliza quatro hooks, prendendo assim o espetador. Na parte instrumental, predomina a eletrotécnica e os sintetizadores, como já nos vai sendo habitual. Dum modo geral, não é nada de novo ver este tipo de componentes (voz agressiva, background eletrónico, lírica erótica) numa música da Gaga, logo, fica-nos a ideia de vazio, sem ficarmos surpresos de algum modo. "G.U.Y." o terceiro single oficial de "ARTPOP", à semelhança da anterior, também é uma faixa EDM convencional, contando com Gaga e Zedd na escrita e na produção, mas vemos agora uma Lady Gaga mais "doce", com uma voz pura que percorre vários tons e criando também o contraste entre as estrofes "melodicamente" cantadas e as "friamente" faladas, tendo assim um refrão bem ativo, e um clímax bem conseguido (da terceira parte em diante). Mais uma vez, a parte instrumental é do mesmo género da faixa anterior, sendo a sonoridade desta mais agradável, contagiante e dinâmica, típica do trabalho assinado por Zedd. Embora os temas líricos explorados aqui sejam os mesmos de "Venus", esta música é muito mais apelativa que a anterior, sendo uma das melhores do álbum a seguir a "Aura". Depois vem "Sexxx Dreams", outra  música EDM, com influencias R&B, que nos conta fatídica história de uma rapariga que está sozinha e que seduz a sua melhor amiga a trair o namorado, sabendo que o mesmo está fora este fim de semana, pois ultimamente tem tido sonhos eróticos com ela, mas paralelamente, a primeira não se sente confortável em fazer isto, ficando assim com a consciência pesada e dividida entre fazer uma boa atitude ou fazer o que o seu desejo quer (que é uma atitude moralmente incorreta). Notemos também que esta canção escrita por Blair, William Grigahcine (também conhecido por DJ Snake, responsável pelo êxito "Turn Down For What"), Martin Bresso e Gaga assume duas personalidades do "eu" poético: a personalidade moralmente sensata e a personalidade pecaminosa. Para reforçar esta ideia, é perceptível dois tons de voz diferentes, um mais "malicioso" e consistente, e outro mais "arrasado" e volupiosamente vago. Esta faixa é produzida por Gaga, Blair, Monson e Zisis e tem um corpo instrumental lento com uma batida austera que contrasta com um refrão de forte sonoridade. Resumidamente, não é uma canção ambiciosa. "Jewels'N'Drugs", produzida por Blair, Gaga, Monson e Zisis, é o resisto mais hip-hop deste disco, contando com a colaboração vocal de T.I., Twista e Too Short. Este tema, escrito por Gaga, Blair, Monson, Zisis, Twista, Too Short, Clifford Harris Jr., relata a história de uma rapariga que tem duas paixões: o dinheiro e o amor, e junta o útil ao agradável quando tem relacionamentos com rapazes (que ela chama de golpes ["hustle"]), com o objetivo de ser rica para cobrir os seus caprichos e de ter satisfação sexual. Quanto à parte instrumental não restam dúvidas de que é muito criativa e dinâmica: começa com uma espécie de wildtrack de um auditório, como que se o ouvinte tivesse a ver o início de um concerto de música clássica (por exemplo) até que esse ambiente é quebrado pela batida que acompanha os versos de T.I.. Essa batida é pesada e rica sonoricamente, com um ritmo que inspira presença (e de certa forma introduz a música e o artista). Depois, quando chegam os versos cantados por Gaga, esta fica mais grave, mas o ritmo é o mesmo. Quebrado com a entrada de Too Short, onde a sonoridade que o acompanha é mais frenética. Com a chegada do refrão (cantado por Gaga), o ambiente muda para algo mais intenso e lento que o que vimos anteriormente. Mas a parte mais "maluca" é a do rapper Twista, onde o ritmo é de tal maneira acelerado que mal conseguimos apanhar. À semelhança da sonoridade está também a componente vocal que é igualmente dinâmica: para além de haver três partes "rap" (a velocidades diferentes, dependendo do artista), as partes cantadas são também elas diferentes (na primeira estrofe interpretada por Gaga está sobre um filtro que lhe dá uma voz "distorcida", seguindo para algo mais puro, e no refrão, é aonde ela consegue as melhores notas, acabando por se afirmar). Sem dúvida que é uma das faixas mais poderosas do disco, engatando o ouvinte através da sua dinâmica rítmica e sonora, que no seu geral criam estruturas ou ambientes bastante diferentes, e juntamente a isto vem uma lírica bem sombria que intensifica a atividade da canção. "Manicure", escrita e produzida por Blair, Gaga, Monson e Zisis, é a faixa mais Pop-Rock deste registo. Aqui, o sujeito poético deseja ser curada, pelos homens, como também curá-los ("I'm gon' be manicured" ou "Can you feel it, can you feel it, can you feel it/I'm addicted to the love that you garner (man cured)/Can you feel it, can you feel it, can you feel it/Like a serial killer, man is a goner"), tendo um desejo intenso e produzindo-se para seduzir os mesmos. Diga-se de passagem que na parte correspondente à lírica, o que é mais criativo é o facto de a palavra "manicure" ter sido separa em três outras palavras "man", "i" e "cure" (em português: homem eu curo), iludindo o ouvinte sobre o tema da canção. Como já é habitual no trabalho anterior de Gaga (mais precisamente no álbum "Born This Way"), a sua voz está agressiva e ácida, tendo uma postura interventiva e arrojada. Acompanhando isso vem um instrumental grave e pesado, mesmo assim não é o suficiente para nos surpreender. O segundo single oficial de "ARTPOP", "Do What U Want", produzido por Gaga e Blair, é a faixa mais R&B deste disco, que conta com a colaboração vocal de R. Kelly. A letra escrita por Gaga, Blair, R. Kelly, Martin Bresso e DJ Snake, fala de uma rapariga que se sente de certa forma dominada (por livre vontade) pelo seu parceiro, querendo que as "festas" com ele continuem, permitindo somente que controle o seu corpo. Aqui, a voz de Gaga está bastante sofisticada e forte, fortemente influenciada por Tina Turner e Christina Aguilera, mostrado a qualidade da sua garganta sem auxílios artificiais, enquanto que a de Kelly está mais suave e leve, criando assim um grande contraste entre ambas. O refrão é o ponto alto de Gaga, dando dinâmica e poder à canção. Também a parte instrumental é muito influenciada pelos anos 80, contendo uma batida forte, grave e sintetizada, que juntamente misturada com os vocais dos intérpretes constituem uma estrutura firme. Sem dúvida alguma de que esta faixa é uma das mais cativantes deste novo trabalho de Gaga.
      Depois vem "Artpop", escrita e produzida por Blair, Gaga, Monson e Zisis, que é bastante influenciada pelo estilo techno. Com uma letra bastante original (e com várias interpretações possíveis!), o "eu" lírico tenta mostrar a sua relação com a sua inspiração artística, tratando-a como se fosse um amante com quem tem relacionamentos. No fundo, chegamos à conclusão que esta música é uma das mais profundas deste disco, sugerindo o envolvimento pessoal (e íntimo?!) de Gaga. O refrão é uma das partes mais curiosas ("We could/We could belong together/ARTPOP"), pois dá a entender de que o sujeito e a sua arte não parecem juntos, ou seja, estão separados na sua totalidade, mas no entanto, lá se vão cruzando. Noutra estrofe, o sujeito poético refere de que ama mais a música que o brilho (possível tradução para "bling"), o que pode significar que gosta mais da arte musical que faz do que da fama que essa traz, trabalhando pela arte e não tendo a fama como objetivo principal (neste caso, por muito artista que Gaga possa ser, é-nos difícil acreditar de que ela não gosta da fama, até porque não corresponde com a imagem que a mesma apresenta). Com uma sonoridade e voz profunda, calma e agradável (mas na terceira parte da canção é notável de que a voz da cantora está distorcida e nota-se a utilização propositada de auto-tune) neste tema Gaga dá espaço para algumas reflexões (pouco comuns) que tornam esta balada um dos trabalhos mais interessantes deste álbum. A faixa seguinte é "Swine", escrita e produzida pelo mesmo grupo da música anterior, que é fortemente influenciada pelos géneros synthpop e dubstep. Nesta música, o sujeito poético caracteriza o seu amante como um porco que só quer dela sexo. Aliado a esta letra, vem um instrumental bastante frenético feito à base de sintetizadores e uma voz "de bicho" que nos proporcionam um ambiente muito suíno. "Donatella" foi estrita e produzida pela mesma parceria de "G.U.Y." e contamos a história fútil de uma rapariga bela e rica que consegue tudo o que quer. Com um instrumental algo semelhante ao tema anterior (mas com um ritmo ligeiramente mais lento) e uma voz pouco trabalhada, esta é uma faixa EDM que nada tem de especial. "Fashion" já é uma canção EDM mais agradável e clamorosa. Produzida por Tuinfort, Gaga, David Getta, Will.i.am, e escrita por Gaga, Will.I.Am., Guetta e Tuinfort e Blair fala de uma rapariga rica e bem vestida que vive a vida ao rubro da moda. Podemos de certa forma comparar esta música ao nº1 no Hot100 "Vogue" de Madonna, alegando de que "Fashion" é o "Vogue" de Gaga (mas numa versão bastante mais fraca!). Aqui, a voz e a sonoridade estão mais doce, dando um resultado mais leve e clean"Mary Jane Holland" não passa de um retrato de um alterego da artista que mostra o outro lado do seu pensamento. A ideia é interessante, mas é deveras pouco desenvolvida. Esta faixa EDM escrita e produzida por Gaga e Leclercq, tem uma sonoridade agradável, no entanto não tem nada de novo. A voz de Gaga tem alguns arranjos mas o que predomina é as notas altas que a cantora mostra conseguir atingir (no entanto já podemos ver isso e até melhor em "Bad Romance" ou em "Edge Of Glory"). Nada de novo por aqui. Depois vem "Dope" que saiu como single promocional e atingiu o nº8 no Hot100. Esta faixa é a mais Adult comtemporary do disco tendo sido escrita por Gaga, Blair, Monson e Zisis, e produzida por ela e Rick Robin. A música fala de uma rapariga que está a atravessar um período crítico da sua vida, onde a dependência por drogas e uma vida boémia levaram-na à desgraça, perdendo assim aquele que amava. Agregado a esta letra de mensagem forte vem um instrumental bem austero e sombrio onde o som do piano sobressai ao som dúbio dum sintetizador. Gaga puxa pela voz até aos limites (destingindo-se as notas altas dos "berros"), sem ter auxílio de aplicações artificiais, estando assim pura, e juntamente com o som do piano criam o protagonismo sonoro da faixa. Comparada com "Hair" da própria e "Stay" de Rihanna, esta faixa acaba por ser mais pesada e sombria que as mencionadas, tendo em geral uma sonoridade simplificada e um ritmo lento, sobressaindo-se na playlist do álbum. De seguida vem "Gypsy" que tem um estilo mais europop/folk recuperando assim o ambiente característico da era do álbum "Born This Way", tendo em geral uma estrutura semelhante a esse tempo. A letra foi escrita por Gaga, RedOne, Leclercq e Blair, esta fala de uma rapariga que pretende assentar a sua relação amorosa, pois tem receio de ficar sozinha. Em resposta a esse problema, ela deixa a família e amigos partindo assim à aventura, vivendo a vida, como uma cigana. Produzida por ela e Madeon, esta faixa contem uma sonoridade fresca e agradável que tende como objetivo elevar a boa disposição e juntamente a isso vêm uns vocais igualmente poderosos que fazem desta canção algo divertido. Por fim, "ARTPOP" é encerrado com a faixa que foi o primeiro single oficial. Estreou diretamente para o nº4 do Hot100, "Applause" foi escrita por Gaga, Blair, Zisis, Monson, Bresso, Mercier, Arias, e DJ Snake, e produzida por Blair, Zisis, Monson e Gaga. A faixa EDM, à semelhança de "Aura" e "Artpop", pode ser interpretada como algo pessoal, remetendo à própria artista o significado da mensagem principal. Aqui o sujeito lírico diz que não quer saber de críticas positivas ou negativas mas sim dos aplausos, da glorificação do público. Será que Gaga pensa assim? Será que Gaga faz música só para "alimentar" os fãs e de certo modo a cultura popart? Não me parece que as coisas sejam assim tão lineares, no entanto a componente lírica desta canção dá espaço ao ouvinte para refletir de várias formas. Aqui a voz de Gaga está muito trabalhada usando vários "filtros" que tornam-na mais ácida, mas no refrão temos, mais uma vez à semelhança de muitos dos seus temas, uma pujança vocal de forma melódica e doce. Ainda referente à voz, nota-se também que neste campo ela foi fortemente influenciada por David Bowie e Annie Lennox. Quanto à parte instrumental é de elogiar a dinâmica dos sintetizadores que contribuem para que esta música ativa e cativante, variando assim o ritmo entre o corpo da letra e o refrão. De certo modo, o disco acaba com um aplauso.
      Quem conhece a discografia de Gaga percebe que ela sempre tentou sair dos padrões estandardizados da pop a todos os níveis, incluindo musicalmente, e com este novo álbum, o ouvinte tem a certeza disso. "Fame" foi um álbum muito adolescente e básico, com músicas jovens feitas para cativar uma geração (até porque desde muito cedo se chegou à conclusão de que a melhor forma de lançar um artista dentro do mundo pop é fazer canções juvenis onde o tema lírico são as festas, os romances de verão, a escola ou o prazer sexual, e se repararmos, artistas como Madonna, Kylie Minogue, Christina Aguilera, Britney Spears, Jlo ou Iggy Azalea começaram com êxitos bastante light). "Fame Monster" foi o EP que serviu para relançar "Fame", e aí, ela mostrou saber fazer mais que "Just Dance", mas sim algo novo e fresco que marque uma geração. Geração essa que está muito saturada de estrelas pop, videosclips de diferentes "formas e feitios", daí Gaga ter-se apercebido de que tinha de arriscar mais e fazer algo tão original como os vestidos que usa, percebeu de que tinha de fazer a diferença à força (isso sim é o que determina a longevidade de um artista, que por vezes tem de arriscar o que pode custar caro para se poder sobressair da "banalidade" [por exemplo: Madonna e o seu polémico álbum Erotica] e quem prefere fazer o que não provoca os seus fãs para ter uma imagem "limpa" perde a atenção caindo na regularidade [por exemplo: Jlo e as suas intermináveis colaborações com Pitbull]). Foi com este objetivo em mente (o de fazer a diferença à força) que "Born This Way" nasceu daquela maneira! Foi um álbum duro, agressivo, íntimo, polémico e sobre tudo ambicioso! Aí Gaga provou fazer a diferença, embora de forma controversa em alguns aspetos (por exemplo a polémica "Express Yourself"/"Born This Way"), daí o público esperar por um regresso em grande. Mas Gaga não conseguiu esse impacto (pelas razões que vimos anteriormente), daí este disco estar-lhe a custar caro, como custou a muitos artistas que ousam arriscar para se reinventar. Mas o facto de "Artpop" não ser um sucesso comercial não quer dizer que seja um fiasco artístico, o que não é! Este LP, nº1 na Billboard200, é um tanto ou quanto experimental, tendo o objetivo de ser uma alternativa aos padrões da pop, acabando por redefini-los ("Primeiro estranha-se depois entranha-se" - Fernando Pessoa). Organizado de uma forma inteligente, o álbum começa com "Aura" que diz artpop no final, a meio da playlist existe uma faixa chamada "Artpop" e o mesmo é encerrado com "Applause" que também tem a palavra artpop no final da lírica, ou seja, início, meio e fim, tudo estudado com antecedência e de forma matemática. Nesta "história", os "episódios" mais bem sucedidos são: "Aura"; "G.U.Y."; "Jewels N'Drugs"; "Do What U Want"; "Artpop"; "Dope"; "Gypsy" e "Applause". Para além destas existem outras que não foram ambiciosas o suficiente para estarem entre as headlines, tais como: "Venus"; "Sexxx Dreams" ou "Swine", mas que no entanto não são lixo. O álbum está disponível em duas edições: a standard (com quinze faixas) e a deluxe (com um dvd do concerto da cantora no iTunes Festival). Feito para tolerantes, revoltados, descriminados, grupos sociais em minoria e sobretudo vanguardistas, "Artpop" no seu conjunto geral é um álbum à frente do seu tempo. Em suma, este disco foi a aposta futurista de Gaga que só vai ter frutos a longo prazo, só vai ter o seu valor com o passar do tempo, custando-lhe caro agora, mas saindo reforçada num próximo trabalho, igualmente criativo e reconectado com o público.


                    HR

Lady Gaga voltará a Portugal no próximo dia 10 de Novembro no MeoArena.





    

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